domingo, 20 de março de 2011

E ELAS - AS PERNAS ENSEBADAS DA POESIA – ME ALCANÇAM MESMO

... quando estou escrevendo, me divirto à beça
procurando superar A Poesia
(pois não preciso dela para produzir notícias da alma,
vulgo escrever poemas)
passando, de propósito e de repente, a deixá-la para trás
ao aumentar a velocidade e a tensão
por meio das quais me ponho, de súbito,
a desenrolar e esticar o fio da meada ou tema,
de maneira que ela – A poesia –
que ainda a pouco estava a fazer
amor comigo na escrivaninha, ao ver-me,
desabalado, lá na frente, põe-se imediatamente
(e às pressas) a vestir a preta e afrodisíaca calcinha
de renda, a meter-se com rapidez espantosa na negra
e excitante camisola que sabe a amora,
que já fora folha de amoreira
(entenda-se, a negra e excitante camisola de seda),
passa sebo vaginal nas canelas, e só mesmo ela
para conseguir driblar o tradicional erro gramatical
gritando : “Pernas, quero que vocês alcancem já
o Lindomar!”; em vez de gritar: Pernas, pra que te quero!”
E elas – as ensebadas pernas da Poesia – me alcançam mesmo...


(José Lindomar Cabral)

Nenhum comentário:

Postar um comentário