quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

ACENDENDO AS PEGADAS

 .
... eu digo muitas vezes e de “ene” maneiras
as mesmas coisas comprometedoras
(ou atraidoras, inclusive, de chumbo grosso) de sempre...
E quando dou de cara com meu pensamento
insurgente imbuído nos versos subversivos de outro poeta,
em vez de negá-lo, eu o reafirmo de modo
estridente e acintosamente...

Assino, sem pseudônimo, tudo que escrevo
e apesar de detestar fotografias
(devido ao fato de nelas não me achar
desapetitosamente tão feio quanto gostaria
de sê-lo aos olhos famintos e genitais dos outros)
gosto de estar presente em manifestações de repúdio
ao hematófago, reptiliano e canibal (sempre hematófago
reptiliano e canibal) poder dominante,
e de estardalhaçar que estive
para que assim, os inquisitores caçadores
de pseudo-bruxas possam me apanhar facilmente
quando o tempo circunférico e retornável
de caçar dissidentes, de novo aflorar,
sim, que eles possam me desarquivar e achar, seguindo
facilmente as pegadas que, para assustá-los, acendo exatamente
na esperança de que um dia eles me apanhem mesmo
pois, afinal, poeta que morre de morte morrida
e não embranquecido, leia-se, e não alvejado
automaticamente pelos meganhas
da polícia política não é digno de ser chamado
como tal nem merecedor de ganhar uma lápide
com os seguintes - e de próprio punho - dizeres:
Eu fiz tudo ao contrário do me foi ensinado:
EU DISSE irreversivelmente, inclusive NÃO, NÃO, NÃO
ao apequenamento de boca,
ao apregoar sobre os telhados aquilo que os outros
tinham medo de prununciar até em pensamento
e, ainda por cima, me denunciei: endureci o meu dedo furador de bolos
e o apontei contra mim mesmo, e me dedurei
acendendo premeditada, suicida
e matematicamente as minhas pegadas...


José Lindomar Cabral



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