quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

PARA ALÉM DO “AMOR QUE FICA”

... sou alguns, não poucos, dentre estes, alguém vário e sozinho
para quem a poesia é também fonte de infelicidade
apesar de me proporcionar fisiologicamente
um pouco de conforto, pois quando estou escrevendo
sinto um alívio muito parecido com aquele
que a gente sente esvaziando a bexiga
(de pau mole, obviamente, haja vista
que mijar de pau duro, além de complicado
é incômodo p'ra caralho)...

Dizer, agora, que, ao escrever, estou a fazer
minha própria análise (e estou mesmo)
é algo que me dissolve, esferografica, metamorfoseia
uma vez que me metamorfosear em tinta me vernacula,
liquefaz e paradoxalmente me concretiza,
mas não não não me resolve nem exorcisa...

Não obstante, não me dessabora saber
que, sendo, que autoconhecendo-nos
pelo menos deixamos
(eu e meus arquétipos) de ser
uma questão para ser resolvida por Shakespeare
e que Freud, feliz ou infelizmente,
não nos explica, haja vista que ele – Freud –
entendia muito era do “amor que fica”,
amor este, que, segundo Chico Buarque “é amor de pica”...


(José Lindomar Cabral)

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